A Economia Circular: O Caminho para a Sustentabilidade do Futuro
(English Below) 🇵🇹
por Sabino Borges , CEO da Ruy de Lacerda S.A. | Grupo
A economia global, tal como a conhecemos, baseia-se num modelo linear de produção e consumo. Este modelo, conhecido como “take-make-dispose”, tem dominado as economias industriais desde a Revolução Industrial, mas apresenta grandes desvantagens em termos de sustentabilidade. Os recursos são explorados de forma intensiva, os resíduos acumulam-se em grandes quantidades, e a degradação ambiental, a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas têm sido consequências diretas deste paradigma.
Segundo dados do Parlamento Europeu, todos os anos são produzidos mais de 2,1 mil milhões de toneladas de resíduos só na União Europeia. Apenas em Portugal, foram geradas aproximadamente 5 milhões de toneladas de resíduos urbanos em 2022, excluindo resíduos industriais, hospitalares e agrícolas.
A economia circular surge como uma alternativa inovadora e necessária para repensar a forma como produzimos e consumimos bens e serviços. Trata-se de um conceito que propõe a criação de um sistema regenerativo, no qual o valor dos materiais e dos produtos é mantido o máximo de tempo possível, reduzindo a extração de novos recursos e minimizando a geração de resíduos. Neste artigo, exploramos em profundidade o conceito de economia circular, o seu funcionamento, os benefícios e desafios para a sua implementação.
O Que é a Economia Circular?
A economia circular pode ser definida como um modelo económico que promove a reutilização, a reciclagem e a regeneração de materiais, em vez de depender da extração contínua de recursos naturais. É um modelo de produção e de consumo que envolve a partilha, o aluguer, a reutilização, a reparação, a renovação e a reciclagem de materiais e produtos existentes, enquanto possível. Desta forma, o ciclo de vida dos produtos é alargado. A economia circular reconhece que os recursos da Terra são limitados e devem ser usados de forma eficiente e sustentável.
Este modelo visa criar um ciclo fechado, onde os produtos são concebidos para terem uma vida útil mais longa, podendo ser reparados, recondicionados, reciclados ou reaproveitados ao fim do seu ciclo de vida. Em vez de os produtos se tornarem lixo, eles são reintroduzidos na cadeia de valor, mantendo os recursos em uso pelo maior tempo possível.
Princípios da Economia Circular
A economia circular assenta em três princípios fundamentais:
Eliminar resíduos e poluição desde a fase de design: Uma das premissas da economia circular é que os produtos e os processos de fabrico devem ser desenhados de forma a evitar a produção de resíduos e a emissão de poluentes. Isso implica a utilização de materiais recicláveis ou biodegradáveis e o desenho de produtos de modo a facilitar o desmantelamento e a reutilização.
Manter produtos e materiais em uso: Ao promover a reparação, a reutilização e a reciclagem, a economia circular garante que os produtos e os materiais circulam no sistema económico o maior tempo possível, reduzindo a necessidade de novos recursos. Isto pode incluir desde o prolongamento da vida útil de um produto até à criação de novos bens a partir de materiais reciclados.
Regenerar os sistemas naturais: A economia circular não só reduz a pressão sobre os recursos naturais, como também contribui para regenerar os ecossistemas. Ao usar práticas que preservam e restauram os recursos, como a agricultura regenerativa ou a restauração de solos, este modelo económico procura imitar os ciclos da natureza, onde não há desperdício e tudo é aproveitado.
Como Funciona a Economia Circular?
A implementação da economia circular envolve várias estratégias ao longo do ciclo de vida dos produtos:
Eco-design: O desenvolvimento de produtos mais duráveis, reparáveis e recicláveis. Por exemplo, fabricar aparelhos eletrónicos que permitam a substituição fácil de peças, prolongando a sua vida útil.
Reciclagem de materiais: Aproveitar os materiais ao fim de um ciclo de uso, transformando-os em novas matérias-primas para a criação de outros produtos. Um exemplo é a reciclagem de plásticos ou metais.
Economia da partilha: Modelos de negócio como o car-sharing (partilha de automóveis) ou as plataformas de aluguel de bens permitem reduzir a necessidade de adquirir novos produtos, maximizando a utilização de recursos.
Manutenção e reparação: Promover a reparação de produtos em vez de substituí-los por novos. Este modelo tem vindo a ganhar força com a introdução de leis, como a “Diretiva do Direito à Reparação”, que visa garantir o acesso a peças e a instruções de reparação.
Desmaterialização: Focar na venda de serviços em vez de produtos. Por exemplo, em vez de vender impressoras, uma empresa pode fornecer um serviço de impressão onde o cliente paga pelo uso, com o fabricante responsável pela manutenção e pelo fim de vida do produto.
Benefícios da Economia Circular
A transição para uma economia circular pode gerar uma série de benefícios, tanto a nível ambiental, como económico e social:
Redução da pressão sobre os recursos naturais: Ao reduzir a extração de matérias-primas, a economia circular diminui os impactos negativos associados à mineração, à agricultura intensiva e à exploração de recursos fósseis.
Diminuição de resíduos e poluição: A economia circular procura eliminar o desperdício, o que significa menos resíduos em aterros e menos poluição ambiental. A reciclagem e o reaproveitamento de materiais também contribuem para a redução da poluição causada pela produção de novos produtos.
Aumento da resiliência económica: Ao reutilizar e reciclar materiais localmente, as economias tornam-se menos dependentes de importações de recursos e mais resistentes a choques globais, como flutuações nos preços das matérias-primas.
Criação de novos empregos e oportunidades: A implementação de sistemas circulares pode gerar empregos em áreas como a reparação, a reciclagem e o design de produtos. Estima-se que a transição para a economia circular possa criar até 700.000 novos empregos na União Europeia até 2030, segundo dados do Parlamento Europeu.
Competitividade industrial: Ao adotar a economia circular, as empresas podem inovar e criar novas oportunidades de mercado, ao mesmo tempo que reduzem custos associados à aquisição de matérias-primas e à gestão de resíduos.
O Futuro
A economia circular oferece uma visão promissora para um futuro mais sustentável, onde o desperdício é minimizado e os recursos são reutilizados de forma inteligente e regenerativa. No entanto, a transição para este novo modelo exige uma colaboração entre governos, empresas e cidadãos, bem como a criação de um quadro político e económico que favoreça a inovação e a sustentabilidade.
Ao adotar os princípios da economia circular, podemos não só proteger o meio ambiente, mas também criar uma economia mais resiliente e inclusiva, capaz de enfrentar os desafios do século XXI.
Na Ruy de Lacerda estamos com os olhos postos no futuro, para ajudar as empresas portuguesas a adotarem a economia circular e a implementarem medidas mais sustentáveis, que lhes permitam competir nos mercados do futuro.
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Circular Economy: The Path to Future Sustainability
by Sabino Borges, CEO of Ruy de Lacerda
The global economy as we know it is based on a linear model of production and consumption. This model, known as ‘take-make-dispose’, has dominated industrial economies since the Industrial Revolution, but it has major drawbacks in terms of sustainability. Resources are intensively exploited, waste accumulates in large quantities, and environmental degradation, biodiversity loss and climate change have been direct consequences of this paradigm.
According to data from the European Parliament, every year more than 2.1 billion tonnes of waste are produced in the European Union alone. In Portugal alone, approximately 5 million tonnes of municipal waste were generated in 2022, excluding industrial, hospital and agricultural waste.
The circular economy has emerged as an innovative and necessary alternative for rethinking the way we produce and consume goods and services. It is a concept that proposes the creation of a regenerative system in which the value of materials and products is maintained for as long as possible, reducing the extraction of new resources and minimising the generation of waste. In this article, we explore in depth the concept of the circular economy, how it works, the benefits and challenges of implementing it.
What is the Circular Economy?
The circular economy can be defined as an economic model that promotes the reuse, recycling and regeneration of materials, rather than relying on the continued extraction of natural resources. It is a model of production and consumption that involves sharing, renting, reusing, repairing, renovating and recycling existing materials and products as much as possible. In this way, the life cycle of products is extended. The circular economy recognises that the Earth’s resources are limited and must be used efficiently and sustainably.
This model aims to create a closed cycle, where products are designed to have a longer lifespan and can be repaired, reconditioned, recycled or reused at the end of their life cycle. Instead of products becoming waste, they are reintroduced into the value chain, keeping resources in use for as long as possible.
Principles of the Circular Economy
The circular economy is based on three fundamental principles:
Eliminate waste and pollution from the design stage: One of the premises of the circular economy is that products and manufacturing processes should be designed to avoid producing waste and emitting pollutants. This means using recyclable or biodegradable materials and designing products in such a way as to facilitate dismantling and reuse.
Keeping products and materials in use: By promoting repair, reuse and recycling, the circular economy ensures that products and materials circulate in the economic system for as long as possible, reducing the need for new resources. This can include anything from extending the useful life of a product to creating new goods from recycled materials.
Regenerating natural systems: The circular economy not only reduces pressure on natural resources, but also helps to regenerate ecosystems. By using practices that preserve and restore resources, such as regenerative agriculture or soil restoration, this economic model seeks to imitate the cycles of nature, where there is no waste and everything is utilised.
How does the Circular Economy work?
Implementing the circular economy involves various strategies throughout the life cycle of products:
Eco-design: The development of more durable, repairable and recyclable products. For example, making electronic devices that allow parts to be replaced easily, extending their useful life.
Materials recycling: Making the most of materials at the end of their use cycle, transforming them into new raw materials for creating other products. An example is the recycling of plastics or metals.
Sharing economy: Business models such as car-sharing or rental platforms make it possible to reduce the need to purchase new products, maximising the use of resources.
Maintenance and repair: Promoting the repair of products rather than replacing them with new ones. This model is gaining momentum with the introduction of laws such as the ‘Right to Repair Directive’, which aims to guarantee access to parts and repair instructions.
Dematerialisation: Focus on selling services rather than products. For example, instead of selling printers, a company could provide a printing service where the customer pays for use, with the manufacturer responsible for maintenance and the end of life of the product.
Benefits of the Circular Economy
The transition to a circular economy can generate a series of environmental, economic and social benefits:
Reduced pressure on natural resources: By reducing the extraction of raw materials, the circular economy reduces the negative impacts associated with mining, intensive agriculture and the exploitation of fossil resources.
Reducing waste and pollution: The circular economy seeks to eliminate waste, which means less waste in landfills and less environmental pollution. Recycling and reusing materials also contribute to reducing pollution caused by the production of new products.
Increased economic resilience: By reusing and recycling materials locally, economies become less dependent on resource imports and more resilient to global shocks, such as fluctuations in raw material prices.
Creation of new jobs and opportunities: Implementing circular systems can generate jobs in areas such as repair, recycling and product design. It is estimated that the transition to the circular economy could create up to 700,000 new jobs in the European Union by 2030, according to data from the European Parliament.
Industrial competitiveness: By adopting the circular economy, companies can innovate and create new market opportunities, while reducing costs associated with the purchase of raw materials and waste management.
The Future
The circular economy offers a promising vision for a more sustainable future, where waste is minimised and resources are reused in an intelligent and regenerative way. However, the transition to this new model requires collaboration between governments, companies and citizens, as well as the creation of a political and economic framework that favours innovation and sustainability.
By adopting the principles of the circular economy, we can not only protect the environment, but also create a more resilient and inclusive economy capable of facing the challenges of the 21st century.
At Ruy de Lacerda we are looking to the future to help Portuguese companies adopt the circular economy and implement more sustainable measures that will enable them to compete in the markets of the future.